Talvez você sequer saiba que este blog começou com uma newsletter do Substack. E, como toda e qualquer newsletter, começou sem grandes pretensões, simplesmente querendo colocar uma ideia ou outra no lugar, compartilhar alguma análise feita, etc., etc. Claramente, a minha pretensão1 nunca foi fazer algo muito grandioso, mas ao mesmo tempo não queria fazer algo pelas coxas e que não tivesse absolutamente nenhum alcance. A simplicidade e valor de produção do Substack, com vários recursos interessantes e possibilidade de se ter acesso direto a milhares de pessoas, então, foi algo que me atraiu. Era, basicamente, um compromisso entre o ideal e o real, uma boa solução no momento.
Contudo, ao decorrer de todo este período, algumas coisas me incomodaram nesta experiência. O mais óbvio é o posicionamento dos criadores da plataforma, que se mostraram complacentes com produções nazistas e flertam constantemente com a alt right norte-americana2, mas também ando convencido que o Substack não é o lugar certo para desenvolver o Volante Subversivo. Vejamos estes motivos mais de perto.
Incômodos menores
Festa vazia
Vamos ser claros: o público fã de futebol não costuma usar Substack. E não costuma usar por um motivo muito simples: a audiência desta plataforma é composta, principalmente, por blogueiros amadores e pessoas ligadas às artes. Ou seja, são grupos que não costumam se misturar tanto. Outro ponto é que o fã de futebol, em geral, acompanha muito mais os próprios sites de notícias (ou até mesmo blogs próprios mantidos por jornalistas e comentaristas) e perfis de redes sociais mais “clássicas” (como o Facebook, Twitter, Youtube ou Instagram). Também há uma clara diversificação de mídias, tendo-se muito consumo de vídeos, áudios (podcasts), etc., dentre as quais a mídia escrita tem se estagnado enquanto outras avançam disputando espaço. Além disso, no Brasil, o futebol é um esporte de massas e o brasileiro não possui a prática comum de leitura – não vou entrar nos méritos do porquê, basta apenas constatar este fato –, o que dificulta o sucesso de uma publicação no Substack.
Ou seja, o brasileiro médio fã de futebol raramente vai interseccionar com este espaço. Na melhor das hipóteses, talvez exista uma independência entre estes fatores, o que faria com que, pelo simples volume de pessoas que gostam de futebol, reste algum público para nossa newsletter. Mas o que é o Substack? É uma plataforma nova diante de várias outras que já dominam muito mais este espaço. O Substack não consegue, por seu público diminuto, construir um público para ninguém. Não é à toa, pois, que os dirigentes da empresa focam tanto em trazer escritores de outros blogs e lugares para sua plataforma: a criação de público ainda está em andamento. Além disso, se ele está em seu início no EUA, a situação é ainda mais incipiente no Brasil, o que dificulta demais o sucesso de todo e qualquer produtor de conteúdo lusófono. Em outras palavras, tentar falar de futebol em português é uma perda de tempo neste espaço: estamos falando do nicho do nicho do nicho, sem praticamente nenhuma intersecção entre suas categorias. E um nicho, por pura lógica, só funciona se houver intersecções.
Algoritmo horrível
Outro ponto inegável do Substack é que ele não entrega o conteúdo. Não tem nada a ver com regularidade ou algo do tipo: ele simplesmente não entregou praticamente nada do que escrevi, mesmo depois de três meses escrevendo com razoável consistência. Todas as publicações com bons números eram sempre por conta de divulgação por fora e nunca pelo aplicativo. Além disso, pela minha própria experiência, o Substack segue o caminho do Instagram quando falamos de recomendação: ele simplesmente joga para cima de você os maiores produtores da plataforma. Isto, inclusive, ficou bastante claro no Threads, plataforma criada pela Meta para rivalizar com o finado Twitter: você podia ser o cara mais hétero do mundo, eles ainda iriam te mandar mensagens toscas do Carlinhos Maia.3 No Substack e no Note é a mesma coisa: nunca dei qualquer indício de interesse em receitas e ele me recomendava posts com este tema. Crônicas modorrentas com fluxo de consciência mal feitas? Temos também! E publicações sobre esporte, estatística, algo que interessasse ao perfil que delineei? Nada, absolutamente nada.
Na verdade, o cenário do Substack é tão ruim na área de esportes que ele sequer consegue unir quem publica neste tema. Não à toa, sempre que procurava algo sobre futebol, tinha apenas três resultados: achava as grandes publicações, como a Trivela, com públicos consolidados e que abriram uma “filial” no Substack; encontrava algum mini-blog, com análises bastante superficiais e simplistas, com poucos seguidores; ou, pior ainda, achava páginas legais, com textos legais, que estavam paradas. Ou seja, alguém tentou seguir o mesmo caminho que o meu e claramente não deu certo. A melhor descrição possível do Substack é que ele não passa de um feudo muito restrito: a interação entre criadores é minúscula e os seus públicos raramente se cruzam, a não ser por total e clara divulgação dos criadores. Para se ter algum alcance, precisa-se ou de seguidores ou contatos – e isto nós não temos.
O Substack, então, só faz sentido, na área de esportes e divulgação científica, para quem já tem um público e quer tirar dinheiro deste mensalmente. Apenas para isso ele serve e mais nada. Em níveis de conexão, ele é péssimo, já que não te indica para ninguém direito, exceto caso você seja um aspirante a escritor disposto a escrever um monte (o que não é possível na divulgação científica); como espaço de edição, não há nada que um wordpress ou blogger (ou, para os aventureiros como o Volante Subversivo, um html e markdown) não ofereça com muito mais qualidade e liberdade; e, por fim, o público é insuficiente para ter qualquer efeito de transbordamento (“spillover effect”), como ocorre, bem ou mal, em outras redes sociais.
Bem ou mal, o Medium é melhor
Por isso, quando comparamos modelos de algoritmo, o Medium, apesar de seus mil e um problemas (“DEZ DICAS PARA VOCÊ LUCRAR UM MILHÃO DE REAIS POR DIA SEM SAIR DE CASA”), dentre os quais muitos são compartilhados com o Substack, é muito melhor. Se você for escrever sobre futebol, te recomendo seguir no Medium, uma vez que lá o público brasileiro é muito mais presente, as recomendações fazem muito mais sentido (e, assim, permitem que os usuários tenham acesso a novos criadores) e há, de fato, um grupo de escritores ativos.
Além disso, o Medium possui um outro grande triunfo: ele tem posições claras e explícitas em defesa de direitos humanos básicos, como o casamento gay, o direito à existência de pessoas trans e, até onde eu saiba, não costuma aceitar grupos nazistas em suas fileiras. Obviamente, algum erro de moderação pode ocorrer e algumas contas passam despercebidas, com alguns grupos se mantendo por ali. Contudo, há um posicionamento claro da plataforma contra discursos preconceituosos e violências perpetradas contra minorias, como podemos ver em seus constantes posicionamentos. Faz sentido, pois, relevar quaisquer erros que ocorram, o que não é o caso do Substack, que parece muito mais uma empresa que se considera “neutra” e defensora da “liberdade de expressão”.
Por isso, a não ser caso você já tenha um público definido, não faz muito sentido trocar o Medium pelo Substack. O único ponto negativo que persiste no Medium é sua forma de monetização, dentre a qual se tem: a) localidades geográficas específicas muito limitadas, que acabam excluindo o Brasil, sobre quem pode fazer parte da monetização; b) mínimo de seguidores e leituras, o que delimita muito sobre quem pode ganhar dinheiro diretamente na plataforma; e c) o pior de de tudo, depende que você pague para ser membro do Medium, em um formato esquisito de pirâmide (já que o rendimento que o próprio Medium paga para você provém da leitura de membros). Ou seja, mesmo que algumas pessoas comparem o Medium com o Youtube, na verdade ele se parece muito mais com o twitter pós-Musk, exigindo um mínimo de impressões, seguidores e assinar o serviço especial da rede.
A grande questão: o ancapismo do Substack
Pessoalmente, meus problemas com o Substack não começaram após o artigo do Atlantic – já citado em nota de rodapé –, que foi a faísca que reacendeu este debate já antigo sobre o papel do Substack em revitalizar a extrema direita americana. Já cheguei a seguir páginas recomendadas pela plataforma voltadas à divulgação científica dentro do campo da estatística, comandadas por professores universitários da área. Contudo, depois de um tempo, comecei a perceber que as suas publicações eram quase todas voltadas a temáticas da alt-right, mais especificamente conteúdos anti-vax e negacionismo do aquecimento global.4 Obviamente, quando vi esta situação, comecei a desconfiar do Substack e, na prática, já havia modificado minhas expectativas e planos com relação à plataforma, desenvolvendo uma atenção maior para o Medium.
Diante dos acontecimentos e letargia dos chefões do Substack, acabei formando algumas impressões sobre o tema e acredito que expô-las é importante para explicar minha decisão. Pelo que acompanhei, creio que o que melhor explica a posição do Substack é sua proximidade ao libertarianismo norte-americano. Se você possui uma idade próxima à minha ou é mais jovem, certamente já ouviu falar de seres folclóricos chamados “anarco-capitalistas”. E deixa eu te contar uma coisa: os donos do Substack são exatamente isto. Não dá para chamar de outra forma: todo libertarianismo simplista é, de uma forma ou de outra, um ancapismo (envergonhado ou não). No caso dos criadores da plataforma citada, obviamente eles são ancapistas envergonhados, já que sequer chegam a afirmar com todas as letras as suas posições sobre nazistas em sua plataforma:
“Substack is a platform that is built on freedom of expression, and helping writers publish what they want to write (…) Some of that writing is going to be objectionable or offensive. Substack has a content moderation policy that protects against extremes—like incitements to violence—but we do not subjectively censor writers outside of those policies.” Substack Has a Nazi Problem. The Atlantic
Esta frase é clássica de anarco-capitalistas: o único crime que existe é a violência física contra indivíduos (e suas propriedades, claro). Logo, eles possuem uma obrigação moral de não se opôr à expressão das ideias de outrem: isto seria um ato de violência e rompimento de direitos fundamentais do indivíduo. Contudo, o que esta perspectiva se esquece é como estes discursos, na verdade, se aproximam cada vez mais do próprio movimento que eles (ideológica ou oportunisticamente) compõem.
Todos sabemos que a comunidade dos anarco-capitalistas é um clássico da pipeline da alt-right: começa-se ofendido por reivindicações básicas de grupos oprimidos e/ou espantalhos destes para chegar ao conservadorismo americano (o qual recuso chamar de liberalismo, por respeito aos verdadeiros liberais franceses), radicaliza-se em caminho ao ancapismo e chega-se, afinal, no nazismo. Oras, isto só acontece porque os públicos, interesses e visões de mundo destes dois grupos se interseccionam perfeitamente: os ancaps são, na imensa maioria das vezes, um grupo excluído politicamente, compostos majoritariamente por homens jovens, às vezes perdidos na internet, com uma origem majoritariamente de classe média e ligados a pequenas propriedades (tais quais pequenas empresas, origem herdeira que se desfaz, etc.). Resta a eles, então, investir em um contrapúblico5 em um espaço que foi (e, em certa medida, ainda é) marginal no discurso público: a internet, que, desregulada e facilmente manipulável, se associa facilmente às suas visões libertárias.
Neste sentido, há uma simbiose perfeita entre estes diferentes grupos renegados: a ligação de Bolsonaro com grupos neonazistas, por exemplo, não vem de hoje e, além disso, liga-se cada vez mais uma posição memética e libertária, tão extensa em muitos espaços digitais, a grupos autoritários como os militantes da extrema-direita brasileira6. Este é um processo mundial, diga-se de passagem: ao se realizar investigações contra os invasores do Congresso, encontrou-se não um ou dois, mas vários indícios de ligação de suas lideranças com movimentos supremacistas brancos. Alex Jones, líder do maior movimento supremacista branco dos EUA, ajudou Donald Trump em sua eleição. Os ancaps e suas variantes, então, são parte desta pipeline e, por ingenuidade ou apito de cachorro, defendem constantemente a retomada dos direitos plenos de nazistas.
Com a ascensão da lógica algoritmica mandando na comunicação contemporânea7, torna-se claro que é importante regulamentar e controlar estas plataformas, para evitar problemas cívicos absurdos contemporâneos – como, por exemplo, ocorreu com o caso da Cambridge Analytica. Neste sentido, a “liberdade” total para a formação de um “mercado livre das ideias” é uma verdadeira fábula, perdida em devaneios aleatórios de bilionários da tecnologia8, servindo-se apenas para manter as técnicas de controle e manipulação de massas inauguradas durante este período9. Foi graças a estas estratégias extremamente efetivas de fake news e mentiras que os Estados Unidos, o Brasil, a Índia, e muitos outros países, se encontram em um novo cenário político extremamente complexo, com a ascensão explícita da extrema direita.
Sendo assim, não há nada de “livre” aqui: o Substack promove estes conteúdos (e outros, claro) a partir de seu algoritmo e controla exatamente este mercado. Falar de um mercado livre de ideias sem regulação é a mesma coisa que falar de mercado livre sem políticas anti-monopólio: quem decide o que ocorre são os grandes monopólios – e não o público consumidor. Para exemplificar como as indicações do Substack têm claramente uma tendência de direita, vejam o tipo de conteúdo de um autor que eles compartilharam para mim no Note (provavelmente porque os autores explicitamente defendem a posição de seus donos e interagiam com o post de outra figura famosa do Substack10):
To actually wrestle ourselves and our children from this pig-bellied viper will require a sea change in public sentiment and, I fear, things are going to get much worse before they get better. This Marxist-Leninist, woke progressive, “antiracist”-but-actually-racist, Covid authoritarian, pro-Hamas nonsense is not nearly done with us yet.
Isto possui um nome muito evidente: espantalho. Cria-se um inimigo malvado que supostamente quer te calar, matar e humilhar e que não é percebido pelo incauto público geral. Note o tom dramático deste trecho, como se, de fato, o autor tivesse plena convicção da existência de qualquer ditadura, no contexto norte-americano, contra conservadores. Obviamente ele sabe que isso não existe e usa este espaço como um verdadeiro vórtex de criação de uma realidade paralela. Nesta, o conservadorzinho de classe média é um coitado ameaçado pelo marxismo cultural e pela “agenda woke”, subjugado pelo “fascismo de esquerda”, e outras pérolas.
Sendo assim, este discurso faz parte de toda uma estratégia da direita de reescrever a história e inventar outras lorotas. É isso o que o Substack não apenas permite, como também promove, ao indicar estes textos – inclusive para mim. Se ele o faz para alguém que segue figuras claramente de esquerda no Substack, que editou uma newsletter que cita os Panteras Negras de forma positiva, imagine só o que ele fará com pessoas com posições menos claras. Por isso, suspeito que este compartilhamento direto de autores da alt-right é algo intencional: já ficou explícito, em muitas entrevistas e declarações que os chefões do Substack estão neste mesmo vórtex conservador11 e que membros deste dependem destes espaços para se manter – em qual universidade um nazista poderia defender abertamente suas posições, “contribuindo com a causa”?
Ou seja, novamente, este espaço não é um mercado livre das ideias: é claramente um mercado que promove a direita. Oras, mas promove a direita porque ela dá dinheiro para eles ou por “razões ideológicas”12? Não sabemos com exatidão, mas as frases exatas e posicionamento dos proprietários do Substack apontam, como já citei várias vezes aqui, uma perspectiva ancapista, que, na melhor das hipóteses, é ingênua. Além disso, o pensamento de esquerda, justamente por se dar contra a lógica inveterada do lucro, obviamente sempre será depreciado do ponto de vista do Substack, da Meta, do Blue Sky, etc., e qualquer outra empresa de tecnologia capitalista. Quando “ser de esquerda” deixar de ser um produto que gere lucro, a tendência é que estes empresários se oponham a grupos que seguem esta posição.
Por isso, muitos militantes da internet aberta estão absolutamente corretos quando afirmam que precisamos desenvolver alternativas a estas empresas. O Mastodon é um bom exemplo, o qual, por mais que tenha suas dificuldades para lidar com os conteúdos da extrema direita, ainda assim traz uma proposta interessante. Contudo, ele ainda é, igual ao Substack, uma verdadeira festa vazia. Ou seja, infelizmente, alguma forma de compromisso com os poderosos é necessária: se queremos falar algo para nosso povo, precisamos ir aonde ele está – e, por mais triste que seja, as pessoas estão nas plataformas das Big Techs. Não faz sentido manter uma atuação em um espaço tão limitado como o Substack com ideias tão próximas ao Twitter: toda vez que alguém dá dinheiro para esta empresa, reforça ainda mais o poder da extrema direita, amplamente divulgada por ela.
Ao final das contas, tomei esta decisão porque, por mais minúscula e insignificante que ela seja, é preciso ser proativo. Para fechar esta seção, gostaria de citar quem, acredito eu, melhor descreveu a necessidade de resposta ao fascismo: Bertolt Brecht, mais especificamente em seu poema “É preciso agir”.
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo
Bertolt Brecht. “É preciso agir”
O que vai ser do Volante Subversivo?
Continuaremos com o projeto, mas sem a loucura anterior de ter que publicar um monte para ter qualquer tipo de visibilidade. Pelo contrário, tenho percebido claramente como a qualidade, tanto nas publicações quanto nos contatos e público, é mais importante que a quantidade. Por isso, buscarei seguir com nossos projetos já iniciados (“Análise de Mercado” e “Statsbomb”) e mais alguns que irei começar (“Análise de Dados do Zero” e “Análise Geométrica de Dados no Futebol”) e manterei as publicações ocasionais com os dados já desenvolvidos (melhores finalizadores, criadores, etc.), sem exagerar nas análises pontuais. Outro ponto que posso inaugurar seria a aplicação de alguns destes conceitos em algum save do Football Manager, mas isto seria ideal quando houver mais tempo livre – por enquanto, não tenho condições de fazer algo assim, já que, quem já jogou FM sabe, é perigoso se expôr ao vício do jogo.
Também pretendo reforçar as análises sociológicas do futebol. Diante do caso Farid e Substack, é preciso desenvolver uma análise mais apropriada sobre Eugenia, Racismo e Futebol; com os debates sobre a Escola Brasileira, podemos pensar muito bem as questões da identidade nacional brasileira, assim como a dimensão problemática de discursos que associam esta à miscigenação de nosso país; nesta mesma seara, podemos também falar sobre o orientalismo presente em tantos discursos que vêem nosso futebol como “atrasado” e “indisciplinado”. Estas são algumas temáticas sobre as quais tenho alguns rascunhos por aqui, mas, obviamente, desenvolver estes temas demanda bastante tempo, então suas publicações tendem a ser mais esparsas.
Com relação à atuação em outras mídias sociais, provavelmente irei manter o foco no Reddit e Twitter, que tem tido algum retorno legal de interação e distribuição das publicações. Também estou presente no Mastodon, mas este tem estado bastante parado, sem entrega e interação com as publicações. Para seguir as páginas, é só procurar o username “vsubversivo”. Também estaremos disponíveis no e-mail vsubversivo@gmail.com
, se quiser ter um contato oficial. E, por fim, se desejar contribuir financeiramente para este trabalho, pretendo registrar uma chave PIX neste e-mail. Contudo, ressalto que, hoje, o enfoque do Volante é garantir a expansão de seu público, então, se puder contribuir, preferimos que nos siga nas redes, compartilhe com seus amigos e comente em suas páginas e grupos. Isto é muito mais importante para mim do que simplesmente ter um retorno monetário. Se não fosse assim, provavelmente manteria a página no Substack. Somente tomei esta decisão porque é preciso, como disse Silvio Rodriguez, a “estupidez de viver sem ter preço”.
Footnotes
Este texto, por tratar de incômodos pessoais, será escrito utilizando a primeira pessoa, em um caminho diferente do que costumo fazer no Volante Subversivo. A ideia de usar terceira pessoa e primeira pessoa no plural, quando escrevo no Blog, é para representar uma ideia maior, um esforço coletivo que só é possível a partir de um longo trabalho de coleta, armazenamento, compartilhamento de dados, revisão e análise por diferentes pessoas, dentre as quais muitas não necessariamente fazem parte do blog, mas contribuem indiretamente para sua existência (como o FBREF, por exemplo, de onde retiramos muitos dados). Neste caso, tratarei na primeira pessoa porque se trata de uma longa reflexão que tenho feito a partir de minhas experiências com o Substack.↩︎
Há matérias e matérias sobre este tema, tendo pouquíssimas em português. A princípio, podemos citar, além da última da The Atlantic, matérias da ADL e Wired, mais antigas↩︎
Nada contra o Carlinhos Maia ou héteros que seguem ele: o problema é o algoritmo que não entende as relações existentes entre os usuários de sua plataforma.↩︎
Para quem acha que os professores têm razão, afinal, eles entendem de números, basta lembrar de Galton, Pearson e Fisher defendendo teorias raciais ultrapassadas. Este último, inclusive, “se vendeu” para o lobby da indústria do tabaco e defendia arduamente que este não tinha relação com o câncer. Recomendo muito a leitura de The Lady Testing Tea, de David Salsburg, que conta a história de estatísticos proeminentes. Há uma edição em português da Companhia das Letras, com o título “Uma senhora toma chá”↩︎
De acordo com Rocha, citando Michael e Warner, “um contrapúblico seria necessariamente imbuído de uma consciência a respeito de seu status subordinado frente a um horizonte cultural dominante. Seus membros (…) partilhariam identidades, interesses e discursos tão conflitivos com o horizonte cultural dominante que correriam o risco de enfrentarem reações hostis caso fossem expressos sem reservas em públicos dominantes (cujos discursos e modos de vida são tidos irrefletidamente como corretos, normais e universais)”. ROCHA, 2019↩︎
É conhecida a estratégia do uso de memes por parte da alt-right para criticar e difamar seus oponentes (tal qual é demonstrado em DAFAURE, 2020). Além disso, muitos memes usados hoje em dia são provenientes de extrema direita, mantendo-se até mesmo os termos clássicos destes espaços – o virgem e o chad, por exemplo. Tal cultura já foi incorporada (muitas vezes de forma crítica, buscando-se aplicar um discurso contrário) ao mainstream da internet e é utilizada com frequência na arena política. No caso brasileiro, o MBL se destacou nestes procedimentos, inclusive investindo na compra de páginas e nas ações de astroturfing em fóruns e comunidades.↩︎
Aqui podemos citar inúmeros trabalhos sobre este tema. Para uma introdução, acredito que o novo livro de Naomi Klein traz um debate interessante sobre a perda de nossa identidade neste processo – algo com o qual, inclusive, concordo muito quando olhamos o twitter e a lógica absurda pela qual ele foi apropriado. Dentre outros estudos mais clássicos, podemos citar Morozov (“Click Here”), Zuboff (“Vigillance Capitalism”), Noble (“Algorithms of Oppression”) e O’Neil (“Weapons of Math Destruction”), que demonstram os limites dos algoritmos como solução para problemas sociais profundos↩︎
Aviso que as posições destas figuras chegam a ser cômicas e investigá-las pode acabar virando uma certa obsessão. A sensação, ao ler alguns textos destes bilionários, é a de estar diante de um mundo distópico, completamente alheio à realidade concreta em que vivemos. Uma fonte boa para acompanhar estas maluquices é o Manual do Usuário, feito por Rodrigo Ghedin, que sempre nos traz as novas maluquices destas figuras, com uma perspectiva crítica.↩︎
Sobre estas, novamente cito Zuboff e seu “Capitalismo de Vigilância”↩︎
Esta outra figura é Richard Hanania, que consegue posar muito bem como um intelectual razoável, mas, na verdade, é apenas mais um membro da alt-right americana. Para saber quem é quem, sempre recomendo que chequem a Rational Wiki. Aqui está a página de Hanania nesta enciclopédia: https://rationalwiki.org/wiki/Richard_Hanania↩︎
Como exemplo, veja-se a entrevista dos fundadores do Substack com Richard Hanania, citado anteriormente, que contribuiu com textos racistas em revistas de supremacistas brancos.↩︎
Entre parênteses porque tomar decisões pensando primordialmente no lucro também é, obviamente, uma razão ideológica↩︎